Hepatite C - doença silenciosa e traiçoeira

Hepatite C - doença silenciosa e traiçoeira

O Brasil possui hoje 1,5 milhões de pessoas convivendo com o vírus da hepatite C, segundo o Ministério da Saúde. Estima-se que a maioria sejam adultos entre 45 e 64 anos e que o número de infectados possa chegar a 2,5 milhões, já que muitos ignoram estar doentes. A hepatite C ataca principalmente o fígado, é uma doença silenciosa e traiçoeira, que progride lentamente. O vírus é do tipo RNA da família Flavivírus, medindo 55 a 65 nm.

A maior via de transmissão é o sangue havendo controvérsia sobre a transmissão sexual e materno fetal. Antes da descoberta deste vírus, esta hepatite era classificada como hepatite não-A, não-B.

A transmissão sexual do vírus da hepatite C (HCV) entre parceiros heterossexuais é muito pouco frequente, principalmente nos casais monogâmicos. Sendo assim, a hepatite C não é uma Doença Sexualmente Transmissível (DST). Porém, entre os homossexuais masculinos e na presença da infecção pelo HIV, a via sexual deve ser considerada para a transmissão do vírus da hepatite.

Em 80% dos casos, a hepatite C torna-se crônica, estágio da doença que pode evoluir para cirrose (quando os danos no fígado já são permanentes) e até câncer do fígado (hepatocarcinoma), se não detectada precocemente e tratada corretamente.

Na maioria das vezes, o paciente descobre tardiamente que tem o vírus por serem os sintomas pouco comuns ou expressivos. O progresso do HCV (vírus da doença) dentro do organismo é, geralmente, lento e dá-se ao longo de vários anos: o tempo médio entre o contágio e a cirrose varia entre 20 e 30 anos.

Cerca de 50% a 70% dos pacientes permanecem com a inflamação no fígado por tempo prolongado. Desses, 20% evoluem para a cirrose e têm risco de 1% a 4% ao ano de desenvolver câncer. Atualmente, a doença é responsável por 50% dos transplantes hepáticos realizados no país.

Alguns fatores são mais críticos para o desenvolvimento da cirrose, como idade superior a 40 anos no momento da infecção, ser do sexo masculino, fazer uso de álcool, ter coinfecção com o vírus da hepatite B ou com o HIV, entre outros. Apesar disso, o fígado é um órgão com alguma capacidade de regenerar-se. Por isso, o tratamento precoce é essencial para prevenir as complicações e barrar a progressão da doença.

DIAGNÓSTICO

A detecção e o tratamento precoces da hepatite C são essenciais para o aumento da qualidade e expectativa de vida e para a cura da doença.

O anti-HCV (anticorpo produzido naturalmente pelo organismo) é o primeiro teste que deve ser feito nos pacientes para triagem de hepatite e marca o contato da pessoa com o vírus da hepatite C. Esse anticorpo demora de 4 a 6 semanas para se tornar detectável no sangue dos pacientes após o contato com o vírus, podendo persistir indefinidamente.

Outro exame que pode ser utilizado é o PCR, que mostra a presença do vírus no organismo do paciente. O PCR pode ser qualitativo (indica a presença ou não do vírus) ou quantitativo (avalia a quantidade de vírus presentes).

Segundo o gastroenterologista Prof. Dr. Luiz Chehter,o melhor teste para o diagnóstico é o PCR (reação em cadeia da polimerase). Caso seja positivo, pode-se complementar com detecção do RNA do vírus da hepatite C, quantitativa (PCR).

Desde 2011, o Ministério da Saúde ampliou a oferta de testes rápidos gratuitos para detecção da hepatite C, nos chamados CTAS (Centros de Testagem e Aconselhamento). O atendimento no CTA é inteiramente sigiloso e, se o resultado do teste for positivo, a pessoa é encaminhada para tratamento nos serviços de referência.

RESULTADO POSITIVO PARA HEPATITE C: PROCEDIMENTOS E EXAMES SUBSEQUENTES

Após confirmado o diagnóstico é fundamental avaliar o comprometimento do fígado para decidir o melhor tratamento. A biópsia hepática, até pouco tempo era a única alternativa. Este exame se compara a uma pequena cirurgia, já que necessita de internação e anestesia para retirada de uma pequena amostra do fígado. Como qualquer procedimento invasivo, existe risco de complicações, que pode ser desde simples, até graves, como por exemplo, hemorragia e infecção no local da inserção da agulha.

Recentemente, já é possível avaliar os graus de fibrose hepática de todos os pacientes com hepatite B e C com um exame chamado elastografia hepática. Este exame além de ser totalmente indolor, não é invasivo, e evita até 77% de biópsia em pacientes em estágio avançado de hepatites e doenças no fígado.

Uma verdadeira revolução que permite de forma simples e sem riscos qualificar e quantificar os graus de comprometimento do fígado, fundamental para dar sequência ao tratamento correto em pacientes na fase inicial ou em estágio avançado da doença.

TRATAMENTO DA HEPATITE C

Inicialmente feito com a terapia dupla (interferon e ribavirina), o tratamento da hepatite C avançada conta desde 2011 com uma nova classe de medicamentos, os inibidores de protease. Com a terapia tripla (inibidor de protease, pegintron e ribavirina), os pacientes com hepatite C do genótipo 1 têm até três vezes mais chances de cura, chegando a até 80%.

"O tratamento triplo pode reduzir consideravelmente o percentual de casos de cirrose e transplantes hepáticos. O tratamento também impede que o vírus volte a acometer o fígado após ser transplantado", afirma Edson Parise, chefe do setor de doenças hepáticas da disciplina de Gastroenterologia Clínica da Escola Paulista de Medicina - UNIFESP.

O médico salienta ainda a importância da adesão à terapia. "Quando o paciente participa ativamente do tratamento e identifica os efeitos indesejáveis antivirais empregados para combater a doença, existe a possibilidade de uma rápida intervenção do médico no manejo das reações adversas, favorecendo o alcance da resposta virológica sustentada (cura)".

Medicamentos

• Interferon (IFN) - Foi o primeiro medicamento introduzido no tratamento da hepatite C, ainda na década de 90. O interferon é uma proteína imunorreguladora que aumenta a capacidade do organismo de destruir células tumorais, vírus e bactérias. Ele pode ser classificado em alfa, beta e gama (ou imuno-interferon). O interferon alfa, utilizado no tratamento de Hepatite C, apresenta 14 subtipos com especificidades ligeiramente diferentes.

• Ribavirina (RBV ) - Ainda na década de 90, estudos clínicos demonstraram que a administração do antiviral ribavirina, associado ao interferon, por 48 semanas, levava à cura da hepatite C (resposta virologia sustentada) em 40% a 50% dos casos, números duas a três vezes maiores do que os obtidos apenas com interferon. Nascia assim a Terapia Dupla.

• Inteferon Peguilado (PEG INF) - Introduzido à terapia padrão nos anos 2000, este tipo de interferon apresenta melhor tolerabilidade e maior persistência de níveis séricos adequados, permitindo melhor condição de tratamento para os pacientes portadores do genótipo 1 da Hepatite C.

• Inibidores de Protease (IPs) - Desde o final de 2011, está disponível no Brasil um novo modelo de tratamento que consiste na combinação do interferon peguilado e da ribavirina com os inibidores de protease, uma nova classe de medicamentos que aumenta as chances de cura dos pacientes, podendo chegar a 80%, até mesmo aqueles que não obtiveram sucesso com a Terapia Padrão. A chegada desses antivirais de ação direta (DAAs) é a primeira inovação no tratamento da hepatite C em mais de 10 anos.

Atualmente o Sistema Único de Saúde (SUS) disponibiliza o injetável Inteferon Peguilado alfa-2b e alfa-2ª, as cápsulas de Ribavirina e os Inibidores de protease Boceprevir e Telaprevir para o tratamento da hepatite C.